Embora a regulamentação seja pulverizada - as normais são determinadas por leis estaduais ou municipais - a falta de proteção, prevenção e controle não é um problema de legislação, segundo os analistas.
"A legislação brasileira está atualizada", afirma Brentano. "A lei nacional é genérica e cada Estado tem suas regras específicas. A questão é aplicar a legislação."
"As pessoas acham que o incêndio só vai acontecer no prédio do vizinho, então, temos um problema de gambiarra mesmo. Estão sempre tentando ver se não tem uma forma mais barata de resolver, abandonam as questão da prevenção e o treinamento interno", diz Brentano, que também é membro da National Fire Protection Association, dos Estados Unidos.
Falha humana
"Um incêndio só ocorre porque houve uma falha, desconhecimento, mau uso da edificação, como uso de velas em locais com material inflamável. Há também problemas estruturais ou de manutenção. Resumindo, um incêndio não começa e não se espalha se não houver uma falha."
A opinião é compartilhada pelos outros especialistas. "Não é azar, não é caso fortuito, não é acidente. É sempre um erro humano, uma falha de alguém que fez uma coisa errada", afirma Tomina, da ABNT.

Rosaria Ono, professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, aponta que as edificações brasileiras não são pensadas para evitar que o fogo comece.
"Nas casas, por exemplo, é normal encontrar botijões perto de coisas inflamáveis, ou crianças brincando com velas. Também há um cultura da gambiarra, muitas coisas ligadas em uma única tomada", explica. "Já nos prédios, há instalações elétricas ruins, sobrecargas e falta de manutenção."
Tomina cita outros exemplos: "As pessoas não tomam cuidado, deixam panela no fogo, equipamentos ligados, crianças brincando com produtos inflamáveis. Ou então colocam um 'benjamin' na tomada com vários aparelhos. Nas empresas também, fazem corta e solda sem cuidado, sobrecarregam a rede elétrica."
Mesmo as medidas de evacuação de pessoas ou para impedir que o fogo se espalhe não são bem estruturadas e falham com frequência. "É inadmissível que um incêndio que comece no 10º andar chegue ao 11º", explica Pignatta. "É preciso usar portas corta-fogo, vedar buracos, arrumar parapeitos e saídas de emergência. Muitas vezes encontramos escadas de emergência obstruídas."
Deficiência na formação de engenheiros e arquitetos
O problema se agrava porque prevenção de incêndios só se tornou disciplina obrigatória na maioria das faculdades e universidades de engenharia e arquitetura recentemente. Ou seja, não há muitos profissionais especializados na área. Uma lei sancionada em 2017 exige que a cadeira seja incluída na grade, mas poucas universidades já mudaram o currículo.
Como salvar vidas
"Mesmo que você tenha os equipamentos em ordem, não adianta se não tiver alguém que saiba usar", afirma Brentano. "Se tiver alarme e não tiverem feito simulações - para todo mundo, não só para a brigada - ninguém vai saber o que está acontecendo e como agir."
O engenheiro afirma que escolas deveriam ter simulações pelo menos uma vez por semestre, por exemplo.
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